quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A SEGREGAÇÃO QUASE INVISÍVEL

Durante muito tempo a adolescência foi entendida como um período de transição entre a infância e a fase adulta, período este, que gerava uma imensa crise de valores e diversos conflitos. Essa concepção naturalmente, levou a sociedade a segregar os adolescentes de uma maneira bastante sutil e inconsciente, por considerar que eles eram responsáveis pela distorção dos valores tradicionais. Mas agora o tempo é outro e, por isso mesmo, atualmente a adolescência é entendida como etapa evolutiva peculiar ao ser humano passando a ocupar o centro de interesses especulativos e de preocupações sociais. Esta mudança de postura decorre da situação em que estamos inseridos. Não é difícil perceber que o mundo está atravessando uma crise de identidade muito semelhante a que caracteriza esta fase da vida (adolescência). Por esta razão, toda a humanidade, independentemente da faixa etária e sem escolha, tem a oportunidade de experimentar a angustia atual, que reside no questionamento incessante dos valores tradicionais em confronto com a necessidade de reformulá-los diante das exigências do atual momento civilizatório. Este contexto nos permite perceber que as desigualdades se refletem através das vítimas desta segregação precoce. Nós participamos de uma sociedade de vítimas que, na maioria das vezes, estabelece confronto entre as expectativas conservadoras do meio familiar e as demandas da sociedade pós-moderna. É época de um grande conflito de gerações e de uma reforma precipitada de costumes, decorrentes do progresso material e conquistas recentes, o que gera a falta de comunicação entre crianças, jovens e adultos (o tão importante diálogo), dentre outros tantos problemas. Sabemos que a ética que o mundo moderno transmite aos jovens não é uma ética de reflexão alicerçada na responsabilidade e sim de ação inspirada no oportunismo, no qual meios e fins estão confundidos e a violência encontra o lugar ideal para construir sua morada. Os adolescentes aprendem a não sacrificar o prazer de hoje pela segurança de amanhã, pois esta precisa de fundamentação num mundo em que o futuro deixou de ser previsível. Igualmente aprendem que a violência é a única forma de nivelar e obter privilégios. E então os jovens se rebelam, contestam, problematizam... Reagindo ao sentimento de marginalização da grande e trágica competição travada nestes tempos e na busca pela adolescência inevitavelmente perdida. Em muitos casos, discutir quem cometeu o primeiro crime (na atualidade), se o pai ou o filho, é como tentar estabelecer a antecedência do ovo sobre a galinha e vice-versa. Não se pode esquecer que a adolescência é um momento de se estabelecer “moral própria”. Trata-se de um momento importantíssimo no desenvolvimento do indivíduo, marcado pela estruturação final da personalidade. Sendo uma fase tão importante e crucial da vida, é necessário procurar entender todo o processo de desenvolvimento e ter consciência que ele ocorre paralelamente ao contexto em que vivemos nos comprometendo cada vez mais com a juventude, sem desconsiderar que uma grande parcela do aprendizado de tudo o que é essencial à vida só a experiência pessoal irá proporcionar. Talvez, temos mais a aprender com o mundo do que com a escola, por exemplo. Portanto, tratemos de examinar e aprender um pouco melhor as possíveis razões que motivam a conduta dos adultos em relação aos adolescentes e dos adolescentes em relação aos adultos. É necessário compreender e não excluir.

2 comentários:

Creni Machado disse...

Oi Loany
Como sempre me surprendo como o texto feito por você. A adolescencia não deixa de ser uma fase bem complexa, desde os primordio ela sempre foi mal entendida pelas chamadas "pessoas tradicionais". Até hoje ainda não sei o que é ser tradicional, será que nunca foram adolescentes. Acho uma fase bem legal...

Loany Costa disse...

Oi Creni, obrigada por ler o texto. Que bom que você não descobriu o que é ser tradicional. Nós podemos sim ter uma postura coerente e até mesmo conservadora, mas não necessariamente radical. A compreensão e o diálogo nesta fase do desenvolvimento são de extrema importância.

Fica com Deus!

Um beijo